Quem paga a conta da crise provocada pelas apostas online no Brasil?
- Prof. Conrado Augusto
- 28 de jul.
- 2 min de leitura

As apostas online no Brasil deixaram de ser um simples fenômeno de mercado para se tornarem um grave problema de saúde pública. O Estado falha ao não regulamentar essas plataformas e ao não oferecer suporte adequado às vítimas do vício. Enquanto isso, famílias brasileiras pagam um preço alto, e às vezes, o preço final.
O caso recente de um homem de 32 anos que tirou a vida da própria mãe, após acumular dívidas com apostas esportivas, escancarou uma realidade ignorada por muitos: o vício em jogos está destruindo famílias e sobrecarregando o Sistema Único de Saúde (SUS).
A dependência gerada por essas plataformas tem levado um número crescente de pessoas a desenvolver quadros graves de ansiedade, depressão, surtos psicóticos e até ideação suicida. O SUS, que já opera no limite em diversas regiões do país, é a principal porta de entrada para quem sofre os efeitos psicológicos desse vício. Sem uma rede robusta de atendimento em saúde mental, casos como esse tendem a se repetir.
Para dimensionar o problema, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que cerca de 10,9 milhões de brasileiros fazem uso perigoso de apostas. Isso significa que milhões já ultrapassaram o limite entre lazer e compulsão, colocando em risco suas finanças, saúde e vínculos familiares.
A investigação do crime mostrou que o agressor havia feito empréstimo consignado para alimentar o vício. Sua mãe, professora de 58 anos, foi morta após mais uma discussão sobre a falta de dinheiro. Um episódio trágico, infelizmente não isolado. Fica a pergunta: essa tragédia poderia ter sido evitada?
Não se trata de justificar o ocorrido, mas é possível que, com algum tipo de apoio psicológico, o desfecho fosse diferente. Para muitos brasileiros, contudo, o cuidado com a saúde mental ainda é um luxo distante. Quando o colapso chega, o sistema já não consegue mais amparar.
A banalização das apostas, cada vez mais presente nos intervalos comerciais, nos uniformes dos jogadores e nos aplicativos de celular, avança silenciosamente. Quantas propagandas de casas de apostas aparecem durante uma única partida de futebol? É quase impossível assistir a um jogo sem memorizar o nome de duas ou três marcas.
Essa exposição massiva, aliada à promessa de lucro fácil, atinge especialmente os jovens e os mais vulneráveis. Assim, alimenta-se uma indústria bilionária que pouco se responsabiliza pelas consequências sociais que provoca.
Do ponto de vista político, o problema é duplo. É urgente discutir a regulamentação dessas plataformas. O Estado precisa assumir sua responsabilidade e impor limites claros à atuação dessas empresas. Paralelamente, é indispensável reforçar as ações de saúde mental, especialmente no SUS.
Por fim, fica uma pergunta direta: se os lucros astronômicos ficam com as casas de apostas, por que os prejuízos recaem sobre o SUS e as famílias brasileiras? A conta, definitivamente, não fecha.
Enquanto o entretenimento se transforma em dependência, o país assiste à ascensão silenciosa de uma nova crise. E quem paga por ela é a sociedade.
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